A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, crônica, que atinge a pele e os nervos dos braços, mãos, pernas, pés, orelhas, rosto, olhos e nariz. O tempo entre o contágio e o aparecimento dos sintomas (período de incubação) é longo, podendo variar entre 2 a mais de 10 anos. A hanseníase causa deformidades físicas, que podem ser evitadas com o diagnóstico precoce da doença e tratamento imediato.
“O diagnóstico precoce da hanseníase e o seu tratamento adequado evitam a evolução da doença, conseqüentemente impedem a instalação das incapacidades físicas por ela provocadas.” (Ministério da Saúde, 2002)
O que causa a hanseníase?
A hanseníase é causada pelo Mycobacterium leprae (também conhecido como bacilo de Hansen), um tipo de bactéria que parasita as células.
Como se transmite a hanseníase?
O homem é a única fonte de infecção da hanseníase. O contágio ocorre através das vias respiratórias, ou seja, através de tosse, espirro, gotículas da fala e secreções nasais. A principal fonte de transmissão da doença é a pessoa doente que ainda não recebeu tratamento com medicamentos.
A hanseníase não se passa por abraços, carinho ou aperto de mão. Não é necessário, em casa ou no trabalho, separar as roupas, pratos, talheres e copos.
A hanseníase atinge pessoas de todas as idades, tanto homens quanto mulheres, no entanto, é rara em crianças.
A maior parte das pessoas que adoecem apresentam resistência ao bacilo, é o que chamamos de casos Paucibacilares, que hospedam um número pequeno de bacilos no organismo, insuficiente para causar a infecção de outras pessoas. Assim, podemos dizer que os casos paucibacilares não são fontes importantes de transmissão da doença. Alguns casos paucibacilares evoluem direto para a cura espontânea da doença. Já outros passam pela doença subclínica e em seguida evoluem para a cura espontânea.
Uma parte pequena da população (aproximadamente 5%) não apresenta resistência ao bacilo, que passa a se multiplicar no corpo da pessoa infectada. Esses são os casos Multibacilares, que são a fonte de infecção da doença. Fatores ligados à genética de cada indivíduo determinam se a pessoa é resistente (tem contato com o bacilo, mas não desenvolvem a doença) ou susceptível (desenvolvem a doença).
Quando a pessoa inicia a quimioterapia para a hanseníase, ela deixa de ser um foco transmissor da doença, pois já as primeiras doses de medicação matam os bacilos, e assim essas pessoas passam a não ser mais capazes de transmitir a doença.
Quais são os sinais e sintomas da hanseníase?
A hanseníase apresenta sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos. As alterações neurológicas, se não diagnosticadas precocemente e tratadas, podem causar incapacidades físicas e deformidades.
- Olhe para o seu corpo e procure observar, nos braços, mãos, pernas e pés, rosto, orelhas, costas e nádegas, os sinais e sintomas da doença.
- Manchas brancas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer parte do corpo com diminuição ou perda da sensibilidade ao calor, frio ao tato e à dor.
Fonte: www.saude.gov.br
- Caroços e inchaços no corpo, que podem estar avermelhados e doloridos.
- Áreas da pele com alterações de sensibilidade, diminuição do suor ou dos pêlos.
- Perda de sensibilidade e/ou diminuição da força do quinto dedo da mão.
- Dor e sensação de choque, fisgadas ou formigamento ao longo dos nervos dos braços, mãos, pernas e pés.
- Diminuição da força muscular, com dificuldade para segurar objetos.
- Cortar-se ou queimar-se sem sentir dor.
Como é a evolução da doença?
A história natural da hanseníase é diretamente relacionada ao estado imunológico da pessoa. A maior parte das pessoas, como dito, possuem imunidade contra o Mycobacterium leprae. A maior parte das pessoas não adoece. Dentre aquelas que adoecem, o grau de imunidade varia e ele determina como a doença vai evoluir. Inicialmente, a doença manifesta lesões na pele, que são as manchas esbranquiçadas ou avermelhadas com perda da sensibilidade que citamos. Geralmente essas lesões ocorrem no rosto, orelhas, braços, pernas, costas, nádegas, e mucosa nasal.
Se a doença não é diagnosticada e tratada, ela evolui para as lesões nervosas.
É comum o aparecimento de nervos engrossados (nervo que passa pelo cotovelo, por exemplo). Pode ocorrer também uma redução de sensibilidade nas áreas inervadas pelos nervos “doentes”, geralmente em olhos, pés e mãos e redução da força muscular dos músculos inervados pelos nervos acometidos.
A primeira sensibilidade a ser alterada é a térmica, depois a dolorosa, depois a tátil. Essas alterações de sensibilidade levam o doente a ter dificuldade de proteger das agressões diárias suas mãos, pés e olhos.As lesões motoras podem causar fraqueza muscular e até paralisias, causando também atrofias musculares, retrações tendíneas e diminuição da mobilidade nas articulações.
As lesões nervosas também são responsáveis pelas alterações na produção de suor e distúrbios dos vasos sanguíneos. É importante sabermos que as lesões nervosas facilitam o aparecimento de queimaduras, fissuras, calosidades, traumatismos e ulcerações. A pessoa também pode ter, com a evolução da doença, infecções secundárias, osteomielites (infecções nos ossos) e reabsorções ósseas.
Como é feito o diagnóstico da hanseníase?
O diagnóstico da doença é feito pelo médico, através da história clínica do paciente, exame físico (principalmente exame dermatológico e neurológico), teste de sensibilidade, teste da histamina e/ou teste da pilocarpia. Quando disponível, é feita também a baciloscopia e a reação de Mitsuda, que avalia a se a pessoa possui imunidade ou não ao bacilo de Hansen, que causa a hanseníase.
Como diferenciar a hanseníase de outras doenças dermatológicas?
A principal diferença entre a hanseníase e outras doenças dermatológicas é que as lesões da pele na hanseníase sempreapresentam alterações de sensibilidade. As principais doenças dermatológicas que fazem diagnóstico diferencial com a hanseníase são: Pitiríase versicolor, pitiríase alba, eczemátide, tinha do corpo e vitiligo.Quais doenças neurológicas fazem diagnóstico diferencial com a hanseníase?
- Lesão por esforços repetitivos (LER), chamada atualmente de D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho)
- Síndrome do túnel do carpo
- Neuropatia alcoólica
- Neuropatia diabética
- Neuralgia parestésica
Como é feito o tratamento da hanseníase?
Em primeiro lugar, saiba que HANSENÍASE TEM CURA!
O tratamento da hanseníase é feito nos serviços de saúde, e pode durar de 6 a 18 meses. O paciente toma comprimidos diariamente em casa e uma vez por mês no serviço de saúde. Cada vez que o paciente comparece ao serviço de saúde, é feita uma avaliação do paciente que analisa a evolução das lesões de pelo, do comprometimento neural, e o médico verifica se há neurites ou estados reacionais. Os estados reacionais são reações do sistema imunológico do doente ao Mycobacterium leprae. Elas se manifestam através de episódios inflamatórios agudos que ocorrem durante a evolução crônica da doença, e são causas importantes de lesões nervosas e das incapacidades desencadeadas pela doença. Alguns fatores que geralmente desencadeiam essas reações são:
- Gravidez
- Amamentação
- Estresse psicológico ou físico
- Infecções
- Medicamentos (como iodeto de potássio, por exemplo)
O paciente é orientado a como prevenir o aparecimento das incapacidades e deformidades.
O tratamento específico da pessoa com hanseníase, indicado pelo Ministério da Saúde,
é a poliquimioterapia padronizada pela Organização Mundial de Saúde (PQT).
A PQT mata o bacilo e o deixa inviável, o que evita a progressão da doença e previne as incapacidades e deformidades que ela provoca, levando à cura do paciente.
O bacilo morto não é capaz de causar a infecção de outras pessoas, o que interrompe a cadeia epidemiológica da hanseníase. Assim, interrompe-se a transmissão da doença.
A poliquimioterapia associa os seguintes medicamentos: rifampicina, dapsona e clofazimina. Essa associação é feita para evitar a resistência medicamentosa do bacilo que ocorre frequentemente quando apenas um medicamento é utilizado.
A poliquimioterapia é administrada a partir da classificação do doente em Pauci ou Multibacilar.
Para crianças com hanseníase, a dose dos medicamentos do esquema-padrão é
ajustada, de acordo a idade do paciente.
O paciente que completa o tratamento passa a não ser mais considerado como um caso de hanseníase, ainda que permaneça com alguma seqüela da doença. Esse paciente continuará a ser assistido pelos profissionais de saúde, especialmente se tiver alguma intercorrência após a alta.
O que fazer caso você more com alguém que teve o diagnóstico de hanseníase?
Caso você resida com alguém que tenha recebido o diagnóstico da doença, deve procurar o seu Centro de Saúde de Referência, onde será avaliado pelo médico e submetido a um exame dermatoneurológico. A vacina BCG (duas doses, com intervalo de 6 meses entre elas) deverá ser aplicada a todos os contatos intradomiciliares que tenham diagnóstico negativo para hanseníase. Estudos provaram que a vacina BCG confere uma proteção de 20 a 80% da BCG na hanseníase.
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